terça-feira, 13 de abril de 2010

Para sempre Maria

Outro dia li uma entrevista muito interessante com a Patricia Montaud na Revista Ciência & Vida Psique, Ano IV, n. 47, Editora Escala que me fez refletir sobre os atos que praticamos diariamente. Eles estão carregados de intenções e baseados na história inserida em cada molécula que compõe o nosso corpo físico, no emocional e espiritual. Somos parte do resultado de nossos antepassados mas também fazemos a releitura daquelas vivências e as emanamos com a nossa identidade e alma os resultados que obtemos disso, para somar e integrar todo um universo infinito existente.
Daí compreendi de onde vinha a minha empolgação em fazer bolos e gostar tanto de doces!
Há muitos anos atrás tive a grata oportunidade de conviver com uma senhorinha agradabilíssima, que de “velha” nada tinha. Uma criatura sorridente, baixinha, ativa, trabalhadora, caprichosa, prendada, democrática e cheia de fé; que não julgava as pessoas pela aparência nem pelas moedas que tinham guardadas. Alguém que gostava de gente e era capaz de compreender e conviver tranquilamente como os iguais a ela mas também com aqueles completamente diferentes dela. Adorava aprender! Um novo jeito de costurar, um ponto de tricot ou crochê; aprender a dirigir um veículo mesmo após os sessenta anos; a filosofia contida em cada religião; a misturar os ingredientes para experimentar um novo sabor nas receitas. Uma pessoa capaz de compor seus trajes com liberdade e criatividade, misturando tecidos com diversas texturas, estampas e cores sempre vibrantes como o roxo, o laranja, o dourado, o Pink, marrom,... os tamancos e sandálias de plataforma, os altos e grossos saltos,... Numa época onde isso era nada convencional. Via a roupa como sua segunda pele, traduzindo sua alegria e vontade de viver. Alguém com vocação extraordinária para harmonizar as relações entre as pessoas e realizar sonhos! Não somente os dela mas daqueles que com ela conviviam.
Contudo, via grandiosidade na simplicidade. Observava a vida e nela interagia, às vezes, como mera expectadora da beleza da natureza, no desabrochar de uma flor; na força que emana do movimento da onda do mar, no perfume que exala da fruta colhida ao pé da árvore, do trabalho incessante das formigas e abelhas, na liberdade contida no abrir e fechar das asas dos pássaros; na incrível metamorfose que transforma a lagarta em borboleta; na dedicada construção das coelhas ao berço feito com seu próprio pêlo para receber suas crias; a sabedoria contida em cada passo do jabuti,... Outras vezes era a própria fada de um conto de princesas capaz de transformar o que lhe cercava em beleza e melhoras. Seja pelos beijos estalados dados em nossas bochechas ou no conforto de um abraço fofo; nas roupas que costurava; nas palavras que proferia envoltas em compreensão, respeito e sabedoria relatadas sempre de forma divertida. Seu esporte preferido era o dia a dia! Seus dias eram como uma caixinha de surpresas e ela lidava muito bem com isso.
Cuidou dos irmãos, sobrinhos, da filha, do genro, dos netos, das inúmeras amizades que fez, dos animais, das plantas.
Partiu para outro plano no anoitecer de uma segunda-feira. Foi tudo tão rápido que não houve tempo para despedidas. Tinha de ser assim pois a alegria era uma de suas características notáveis ( dentre tantas outras que possuía), e a tristeza era um sentimento que ela preferia manter distante.
Foi uma das maiores perdas que senti em vida. Por anos andei inconformada com isso!
Ao mesmo tempo, curiosamente, encontrava com ela nos meus sonhos e quando acordava sentia o cheiro dela em minhas narinas, o barulho se sua respiração em meus ouvidos. Conversamos muito e a saudade, o sofrimento deixou de existir quando entendi que ela está em mim e eu nela. Para sempre. Minha doce avó Maria.
PatyZ.
Escrito em 10/04/2010

"Tenho a certeza de que lhe quero bem e com tanta intensidade que o universo inteiro conspira a favor. Gosto de fazer cafuné tanto quanto receber. Como aquele abraço apertado onde duas pessoas que se amam vêem seus braços se entrelaçarem e compartilham de uma harmonia e felicidade indescritíveis... sentindo no silêncio a cumplicidade e o carinho que os arrebatam o coração e atingem a alma em sua plenitude.
As imagens que os olhos captam são tão somente as importantes portas de entrada para muito além do tum tum do coração, do ofegar das narinas, da descarga elétrica que percorre a espinha dorsal após passarem os pensamentos pelo cérebro e o toque das mãos.
Se a vida é a soma de uma infinidade de possibilidades e experiências concretas e imateriais, com o amor isso não é diferente. Não sei se o amor liberta ou escraviza. Talvez ele seja a soma destes “se’s”. Mas o amor... Ah! O amor completa. Expande! Faz sorrir e chorar. Ele soma, fortalece e faz brotar tantas cores quanto a gente se permitir. Ele consegue acompanhar os sabores doces que a relação oferece mas também presencia os dissabores, as amarguras, os azedumes, as fraquezas, as incertezas. Ele rega o rosto com a lágrima mas é capaz de secá-la. Lá no fundo tudo pulsa. A vibração ecoa intensa e incansávelmente. O amor é algo tão simples que chega a se complicar quem quer entendê-lo. O óbvio está sempre ao alcance dos olhos mas nem sempre é percebido facilmente. Nem todo sentido é decifrável. Sorte de quem sabe amar, sorte de quem é amado."


PatyZ.

sábado, 3 de abril de 2010

“...”

Ela não aguenta mais esperar... respira fundo e se dirige ao alvo na escuridão.
Uma fita laranja de cetim com bordas douradas... um bilhete e a doçura que se aproximará de seus lábios no desfazer do laço, ao som do papel transparente que, subitamente se abre através de seus dedos para tocar o vermelho do alumínio e enfim degustar toda a delícia do chocolate que derrete e se espalha na boca fechada mas não inerte. Alimentando as células do corpo, enchendo o cérebro de energia que se transforma em impulsos eléctricos entre os neurónios, como uma corrente capaz de produzir pensamentos, que extrapolam este plano e atingem outras dimensões intensas e complexas, aproximando o que antes parecia distante.


Paty Z.