Outro dia li uma entrevista muito interessante com a Patricia Montaud na Revista Ciência & Vida Psique, Ano IV, n. 47, Editora Escala que me fez refletir sobre os atos que praticamos diariamente. Eles estão carregados de intenções e baseados na história inserida em cada molécula que compõe o nosso corpo físico, no emocional e espiritual. Somos parte do resultado de nossos antepassados mas também fazemos a releitura daquelas vivências e as emanamos com a nossa identidade e alma os resultados que obtemos disso, para somar e integrar todo um universo infinito existente.
Daí compreendi de onde vinha a minha empolgação em fazer bolos e gostar tanto de doces!
Há muitos anos atrás tive a grata oportunidade de conviver com uma senhorinha agradabilíssima, que de “velha” nada tinha. Uma criatura sorridente, baixinha, ativa, trabalhadora, caprichosa, prendada, democrática e cheia de fé; que não julgava as pessoas pela aparência nem pelas moedas que tinham guardadas. Alguém que gostava de gente e era capaz de compreender e conviver tranquilamente como os iguais a ela mas também com aqueles completamente diferentes dela. Adorava aprender! Um novo jeito de costurar, um ponto de tricot ou crochê; aprender a dirigir um veículo mesmo após os sessenta anos; a filosofia contida em cada religião; a misturar os ingredientes para experimentar um novo sabor nas receitas. Uma pessoa capaz de compor seus trajes com liberdade e criatividade, misturando tecidos com diversas texturas, estampas e cores sempre vibrantes como o roxo, o laranja, o dourado, o Pink, marrom,... os tamancos e sandálias de plataforma, os altos e grossos saltos,... Numa época onde isso era nada convencional. Via a roupa como sua segunda pele, traduzindo sua alegria e vontade de viver. Alguém com vocação extraordinária para harmonizar as relações entre as pessoas e realizar sonhos! Não somente os dela mas daqueles que com ela conviviam.
Contudo, via grandiosidade na simplicidade. Observava a vida e nela interagia, às vezes, como mera expectadora da beleza da natureza, no desabrochar de uma flor; na força que emana do movimento da onda do mar, no perfume que exala da fruta colhida ao pé da árvore, do trabalho incessante das formigas e abelhas, na liberdade contida no abrir e fechar das asas dos pássaros; na incrível metamorfose que transforma a lagarta em borboleta; na dedicada construção das coelhas ao berço feito com seu próprio pêlo para receber suas crias; a sabedoria contida em cada passo do jabuti,... Outras vezes era a própria fada de um conto de princesas capaz de transformar o que lhe cercava em beleza e melhoras. Seja pelos beijos estalados dados em nossas bochechas ou no conforto de um abraço fofo; nas roupas que costurava; nas palavras que proferia envoltas em compreensão, respeito e sabedoria relatadas sempre de forma divertida. Seu esporte preferido era o dia a dia! Seus dias eram como uma caixinha de surpresas e ela lidava muito bem com isso.
Cuidou dos irmãos, sobrinhos, da filha, do genro, dos netos, das inúmeras amizades que fez, dos animais, das plantas.
Partiu para outro plano no anoitecer de uma segunda-feira. Foi tudo tão rápido que não houve tempo para despedidas. Tinha de ser assim pois a alegria era uma de suas características notáveis ( dentre tantas outras que possuía), e a tristeza era um sentimento que ela preferia manter distante.
Foi uma das maiores perdas que senti em vida. Por anos andei inconformada com isso!
Ao mesmo tempo, curiosamente, encontrava com ela nos meus sonhos e quando acordava sentia o cheiro dela em minhas narinas, o barulho se sua respiração em meus ouvidos. Conversamos muito e a saudade, o sofrimento deixou de existir quando entendi que ela está em mim e eu nela. Para sempre. Minha doce avó Maria.
PatyZ.
Um comentário:
PatyZ, como está? Ha quanto tempo hem !?!?!
Nossa, não tinha como não comentar este maravilhoso texto que você escreveu. O texto é lindo, é inspirador, é transformador, é carregado de amor, de carinho e admiração, senti isto em cada palavra, cada virgula, cada ponto. Enquanto lia seu texto fiquei me avaliando, analisando meus preconceitos, minha irritabilidade, minha impaciência e ao final do texto tinha a máxima certeza de que devo mudar, devo me renovar...
Muito obrigado pelo texto, e por ter nos apresentado o exemplo de ser humano que foi sua vó.
Muita força, paz e luz à você.
Abraços
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